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Ela organizou a casa, recolheu os
brinquedos espalhados, serviu o café. Tudo estava no lugar: a casa, os filhos,
a rotina. Mas dentro dela, persistia um espinho.
A mulher sorriu, aparentando
leveza, como se o peso dos dias não a atingisse. Contudo, havia algo mais: um
nervo exposto, um laço apertado, um grito mudo na garganta.
Quantas mulheres já sentiram a
necessidade de serem duas ao mesmo tempo? No consultório, a profissional
dedicada; em casa, a mãe presente. Entre atendimentos e fraldas, entre prazos e
afeto. Como conciliar maternidade e carreira sem vivenciar essa sensação de
fragmentação?
Na Psicanálise, Donald Winnicott
(1953) introduz o conceito de "mãe suficientemente boa", enfatizando
que responder adequadamente às necessidades da criança é mais relevante do que
perseguir um ideal inatingível. No entanto, o mercado de trabalho ainda impõe
desafios estruturais que dificultam essa integração de papéis.
Clarice Lispector (1960), em
"A Imitação da Rosa", parte da coletânea "Laços de
Família", explora essa angústia através de Laura, uma mulher que, ao
confrontar a perfeição de uma rosa, sente sua própria fragilidade. A rosa
imóvel, pura e intocada, contrasta com sua existência repleta de exigências e
expectativas. O desejo de Laura de viver com a mesma perfeição da flor a
sufocava. Similarmente à angústia de Laura diante do inalcançável, muitas mães
enfrentam a pressão de serem impecáveis tanto no lar quanto no trabalho,
resultando em uma cisão interna.
No ambiente corporativo, essa
sensação de fragmentação também se manifesta de forma similar. O preconceito
inconsciente que associa a maternidade à redução da capacidade profissional
ainda constitui um obstáculo real para inúmeras mulheres.
Uma pesquisa do Instituto Rede
Mulher (IRME) revela que a maternidade, de fato, promove uma transformação
significativa na vida da mulher, permeando as esferas pessoal e profissional.
Diante da chegada de um bebê, inúmeras mulheres se encontram em uma
encruzilhada, buscando alternativas para equilibrar a necessidade de sustento
financeiro com o desejo de participar ativamente da criação dos filhos. Nesse
contexto, o empreendedorismo emerge como um caminho promissor para um número
crescente de mães que almejam maior flexibilidade e a possibilidade de
conciliar carreira e presença familiar.
A maternidade não deve ser
interpretada como um obstáculo à carreira. Ao contrário, ela adiciona camadas
de experiência e resiliência que podem ser valiosas no ambiente corporativo.
Clarice Lispector escreveu sobre
mulheres que, ao se depararem com o inesperado, redescobrem a si mesmas. A
maternidade também representa esse encontro: um movimento constante entre a
entrega e a busca por identidade.
Donald Winnicott (1953) discorre
sobre a importância de um equilíbrio, a capacidade de integrar diferentes
papéis sem se perder nesse processo. O mercado de trabalho precisa internalizar
essa compreensão: mulheres não deveriam ser forçadas a escolher entre serem
mães e serem reconhecidas como profissionais.
Porque, em última análise, ser inteira não se resume a
dividir-se entre funções, mas a encontrar o espaço onde todas elas possam
coexistir harmoniosamente.
Referências Bibliográficas
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV). Pesquisas e estudos sobre o
mercado de trabalho. Disponível em: https://portal.fgv.br/. Acesso em: 04 de abril de 2024.
LISPECTOR, C. Laços de Família. Rio de Janeiro:
Editora Francisco Alves, 1960.
WINNICOTT, D. W. Transitional Objects and Transitional
Phenomena. International Journal of Psychoanalysis, v. 34, p. 89-97,
1953.
SEBRAE. Projetos apoiam e incentivam as mães empreendedoras. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/projetos-apoiam-e-incentivam-as-maes-empreendedoras,4bac92a3054f1710VgnVCM1000004c00210aRCRd
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