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Uma introdução ao Coaching aplicado à segurança

Uma introdução ao Coaching aplicado à segurança

“First things first”, como diz o ditado em inglês, vamos primeiro tratar do que é importante.

Quais palavras vêm à sua mente quando você lê COACH?

Provavelmente (e infelizmente) você pensou: picareta, influencer, vendedor de curso no Intagram, palestrante enganador e por aí vai. Muita conotação negativa está atrelada a esses pseudo-coach e eu entendo de onde tudo isso vem. Nesse mundo sem leis e fronteiras que é a internet, tem muita gente maluca (e metida a esperta) fazendo de tudo, menos coaching e se autointitulando como tal profissional.

Quando entramos no mundo da segurança, talvez as conotações não sejam tão negativas, mas ainda sim há muito entendimento equivocado sobre que “cargas d’água” é esse tal de coaching, ainda mais aplicado à segurança.

Nesse breve artigo, busco desmistificar e trazer aos profissionais e estudantes de Saúde e Segurança do Trabalho uma visão básica do coaching em segurança. Falarei sobre como esta pode ser uma ferramenta para envolver e desenvolver as pessoas na organização e assim impulsionar a segurança e a eficiência.

Contextualizando. Saber de onde vem, onde está e para onde vai.

Se você clicou nesse artigo, pois ficou curioso pelo assunto, essa provavelmente é uma pergunta que você já fez ou gostaria de fazer: por que o Coaching em segurança importa? No mundo da segurança, sabemos que conhecer regras e procedimentos não é o suficiente. Para se destacar, o profissional de SST precisa ser capaz de liderar (formal e informalmente) e de influenciar pessoas, alterando processos e sistemas em prol da prevenção. O papel da segurança está se tornando cada vez mais colaborativo, focado em solução e interdisciplinar - as características de um coach. Quem nunca ouviu um outro departamento falar que o pessoal da segurança só sabe identificar problemas que levante a mão.

Agora, de forma super resumida, vou explicar um pouco da história do coaching em segurança. Pode-se dizer que uma das origens da prática do Coaching foi com Sócrates (Século IV a.C.). Ele ficou conhecido por suas perguntas abertas e profundas que ajudavam seus ouvintes a raciocinar e tomar decisões.

Já o nome Coach vem desde a idade média, dos condutores de carroças no Reino Unido antigo. Esses que ficam sentados, calados e conduzindo os seus superiores aos destinos eram ouvintes exímeos, capazes de ouvir uma história inteira com pouca ou quase nenhuma interrupção aos “patrões”.

Mais tarde, nas universidades americanas e britânicas, os professores precisavam estimular o aprendizado dos alunos sem dar as respostas, por isso buscavam orientá-los sobre o caminho.

Ao mesmo tempo, surgia o coaching nos esportes, onde os técnicos (coaches), que nem sempre eram os mais habilidosos ou melhores enquanto atletas, utilizavam técnicas que exploravam o desempenho individual do atleta para melhorar sua técnica.

Atualmente, o coaching é usado como uma ferramenta de desenvolvimento profissional dentro das organizações que buscam melhorar ou aumentar a capacidade de sucesso de determinadas áreas, entre elas a segurança.

Em paralelo à história que acabamos de ver, há a evolução na forma de fazer a segurança, a qual muitos de nós, a depender do nosso tempo de atuação, vivenciamos de alguma forma.

As abordagens e métodos para melhorar a segurança (engenharia, gestão, comportamento, sistemas e processo, tecnologia e inovação) vêm se construindo ao longo do tempo, elas não surgem “do nada” e também não desaparecem, o que torna o nosso desafio como profissionais de segurança um tanto quanto interessante ao termos que equilibrar todas essas frentes.

Reparem também como a escada vai se tornando cada vez mais centrada nas pessoas e como elas interagem com os sistemas e processos.

 


Dito isso, o Coaching aplicado à segurança nas organizações tem sua origem (aproximadamente) nas margens da década de 90 para os anos 2000, quando os campos da gestão e conformidade começaram a desbravar mais amplamente o erro humano e o comportamento.

Ainda muito ofuscado pelo viés de auditoria, inspeção e observação de comportamentos que os programas na época possuíam (muitos ainda possuem), o coaching em segurança então começou a tomar uma forma mais abrangente, quando pulou os muros da operação e passou para as salas dos gestores e executivos.

Não é preciso muito estudo para rapidamente perceber que os profissionais e estudantes de Saúde e Segurança do Trabalho precisavam e precisarão desenvolver uma série de competências para lidar com tamanho desafio. E é isso que veremos a seguir.

Esferas de abrangência e habilidades.

Caixa de Texto: Figura 3 - esferas de atuação

Vamos imaginar que cada “área de atuação” seja uma esfera de atuação e você esteja localizado no centro. Começando por leis e normas. Imagine o tanto de informações e referências que você precisa processar. Depois, máquinas e equipamentos, tanto de operação, proteção, etc. Infinitos manuais e catálogos que a quantidade de páginas daria para dar uma volta ao mundo facilmente. Depois temos dentro de cada organização (e em alguns casos, de acordo com cada cliente), as normas e procedimentos internos, não só de segurança, mas de operação também! Não bastasse tudo isso, temos que dominar os aspectos sociais de cultura e comportamento, uma área muito complexa por si só e subjetiva de certa forma. E por último, cada vez mais precisamos ter a arte de promover colaboração e influenciar pessoas.

Vale lembrar que, em sistemas sociotécnicos complexos (indústrias de alto risco), além da importantíssima função da engenharia, tecnologia e padronização, as habilidades sociais se tornaram peça fundamental para que os profissionais de segurança atuem na sua capacidade máxima. Para traduzir o que são essas habilidades sociais, não que essa seja uma lista definitiva, temos:

·        Escuta ativa.

·        Curiosidade operacional.

·        Diálogo para gestão de conflitos.

·        Nurtir relacionamentos.

·        Resiliência ou adaptabilidade.

Vale lembrar que muitas dessas habilidades (cerca de dois terços) estão no relatório do fórum econômico mundial de 2023, que traz as 20 habilidades que as organizações precisarão dos profissionais nos próximos 3 anos. Curiosamente, estas são as habilidades-chave de um Coach profissional.

Desmistificando o coaching em segurança.

Agora que sabemos o que não é coaching, de onde surgiu, como se encaixa na história da segurança e como isso pode ser útil para complementar as habilidades exigidas por nossa profissão, é hora de saber o que é, afinal, esse tal de coaching em segurança.

É uma forma de desenvolvimento profissional e organizacional em prol da segurança. Tem como base uma mistura de ciências sociais, neurociência, inteligência emocional e comunicação. O coach em segurança primeiramente desenvolve relacionamentos de confiança, depois observa e faz uso da escuta ativa, e por fim elabora perguntas com o intuito de ajudar o outro a refletir, criar ideias e soluções. O alcance é dinâmico, pode ser feito com os trabalhadores da linha de frente para ajudá-los a lidar com as variações do trabalho normal, pode ser junto aos supervisores de linha para que estes possam proporcionar melhor suporte a suas equipes e, pode também ser junto à gerência e alta gestão, para que possam tomar decisões melhores e perceber como suas estratégias afetarão (positivamente ou negativamente) o restante da organização. Coaching em segurança não é apenas observação e correção comportamental.

Na teoria a prática é outra…

No final das contas, o que precisamos fazer mais, ou fazer diferente, é:

·        Fale menos e escute mais durante suas interações nos locais de trabalho.

·        Construa relacionamentos e "deposite" confiança na "conta" dos gestores.

·        Transforme auditorias e inspeções rotineiras em diálogos abertos em busca de soluções.

·        Facilite o aprendizado individual e organizacional durante sessões de “treinamento”.

·        Ajude-os a descobrir os diferentes fatores que influenciam seus comportamentos.

·        Faça perguntas abertas durante as análises de acidentes.

·        Explore as estratégias e planos que a gestão apresenta e ajude-os a ver as consequências.

Os profissionais do futuro.

A profissão de Saúde e Segurança do Trabalho está evoluindo e organizações no mundo todo estão olhando para isso, buscando ter em suas equipes profissionais atualizados e capazes de lidar com os desafios onde estão inseridos. Precisamos ser mais colaborativos, focados em solução e interdisciplinares.

A jornada do profissional de segurança não é uma linha do tempo reta, nem tão pouco exata, é uma progressão, uma evolução, e uma metamorfose ambulante (parafraseando Raul Seixas) onde uma competência ou habilidade complementa a outra.

Por final, temos que ter muito orgulho da profissão que temos e ajudar ao máximo a melhorar a forma como a segurança é feita e vista, buscando sempre novas habilidades para atuar em ambientes complexos.

“Coaching em segurança é sobre observar, escutar, conversar e provocar melhorias nos processos e não sobre consertar as pessoas. - Alexsandro Siedschlag”

 

 

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